21 outubro, 2008
Terminê
Essa dor de me sentir como uma marionete em tuas mãos
Me faz ser menos eu
Me faz sentir o que eu não sei compreender
Tudo parece sólido
Ao mesmo tempo que a perda me amedronta
O medo é este...
A perda.
Tudo como em um filme
Em câmera lenta
Eu vejo os teus pés, vejo tuas mãos nas minhas
Eu vejo os teus olhos penetrarem minha alma
E vejo o sol nos queimando
Estamos agindo certo?
O que é certo?
A minha alma, a sua presença
Parece se fundirem
Eu não posso me enganar
Eu preciso de um pouco mais de ar e de sangue nas veias
Os teus olhos nos meus
Penetram no meu intimo
Eu quero viver com o seu ar
Respirar o teu perfume e sentir as tuas veias pulsarem
Eu quero ser você e eu num corpo só
Esse ar que me sufoca ao invés de me fazer respirar
Essa dor que me consome
Ao invés de me deixar
Eu quero viver como num filme
Em câmera lenta...
Pois eu posso te ter mais, e posso contemplar tudo
Sem deixar nada passar
Tudo me parece estar tão perto
Tudo me parece nunca terminar
E a única coisa que eu quero
É que isso nunca terminê.
Milene Szilagyi
19/10/2008
17 setembro, 2008
Meu Eu Sagrado
Meu Eu Sagrado*
Sou assim, sou assim
Como uma nuvem passageira
Impaciente por sumir no céu
Livrar-se dos olhares
Que condenam todo tempo
Trazendo a melancolia aqui dentro
Assim tão fria, assim tão mórbida
Assim tão sem emoções
Eu não sei, eu não sei
Preciso de um tempo pra viver
Sem perceber as pedras que me vem
Para eu tropeçar
Ou passar por cima sem notar
Eu quero uma visão que vai alem
Não quero chorar, não quero lucrar
E nem quero que padeça em mim
Todo aquele sentimento que se foi
Não quero os rastros
Nem ver passos
Que já não fazem parte
Não quero ver o céu se fechar
Não vou me prender
Preciso viver
Preciso olhar pra cima
E saber voltar a mim
Eu quero ficar
Não vou chorar mais
Nem me vingar
Vou voltar, vou voltar
E procurar em mim o que eu não sei
Explicar, me expressar
A solução que ainda não achei
Mas vou seguir
Entrar dentro de mim
E me conhecer.
Milene Szilagyi
17/09/2008
10 maio, 2008
Dama Negra
Dama Negra*
Silenciosa e mansa
Ela passa e as flores murcham
Ela aspira e o ar chora
Seu ar é misterioso
Seu humor sarcástico
Ela é falsa, é traiçoeira
Ela é viúva negra
Imprevisível
Solitária
Olhar obscuro
Toque pesado
Voz que atrai trovões
Boca de veludo negro
Palavras falsas e mórbidas
Ela parte corações
Destrói sentimentos
Egoísta e insatisfeita
Sede de ódio constante
Desejo insaciável de ver lágrimas
Ela é terror
Ela é medo
Sombra, nuvem, chuva
Desespero
22 abril, 2008
Sem Porque
Que eu nem queria amar
Porque com esse amor
Vem a saudade
Vem a dor te esperar
E vem a ansiedade
De ter você ao lado
Pra sorrir ou pra chorar
Eu te amo tanto
Que eu queria até negar
Que com esse amor
Vem as lágrimas
Que me fazem te esperar
Que faz-me lhe contemplar
Implorar ao tempo um instante
Para contigo sonhar
Eu te amo tanto
Que eu nem queria saber
Se é amor... ou se é querer
Porque amor não se pede
Não se escolhe, não se julga
Não se impede...
E contra ele não se luta
Eu te amo tanto
Que eu queria esquecer
Que pra viver sem você
Teria que me apagar
Teria que renascer
Porque nem enquanto durmo
Eu me esqueço de você
Porque se eu vivo hoje
É pra querer te querer
Eu te amo tanto
Que até me nego a negar
Que com toda essa saudade
Vem também felicidade
De que eu posso te encontrar
E com a ansiedade
Vem toda convicção
De saber que nada é vão
E poder te abraçar
É como poder voar...
É sonho
Eu te amo tanto
Que eu nem queria dizer
Porque é tanto quanto falo
Tanto quanto penso
Tanto quanto canto
Que eu te amo sem cessar
E é muito...
Tão muito em si mesmo
Que as vezes não sei se irei agüentar
Eu te amo tanto
Que eu nem queria amar
Porque no fundo se sabe
Que amor não tem muito ou pouco
Nem menos ou mais
Nem tanto, nem quanto
Não tem limite e nem medida
Não tem hora
Não tem tempo
O que me faz te amar tanto
Muito, mais e maior
É saber que esse “que” é indescritível
E é saber que eu só te amo
Porque sem porque é melhor
Quando meus olhos se fecharam
Quando meus olhos se fecharam*
Vejo uma luz cegar-me a alma
Volumosa e carregada
Faz-me prostrar diante de ti
Tamanha é a força que me conduz
É o fogo...
Que com traços incertos
Devora o céu e os rios
Não existe sol
Não há luar nem brisa no ar
Não há arvores ou cachoeiras
Vejo nuvens negras me cercarem
E a neblina mórbida conduzir-me
Vejo as chamas adiante
Montanhas que escorrem lavas
Sinto o fogo arrancando-me a pele
Sinto a lava corroer os pés
O céu negro parece estar a um palmo acima de mim
Não há vida, não há luz
Não há doces ou remédios
Meu coração chora
Faz frio agora
O vento muda-me os passos
Vejo um infinito deserto gelado
Meus lábios tremem
O vento fortemente sopra
Cegando-me os olhos
Sinto a neve cobrir-me de desespero
O frio rasga-me a carne
Destruindo os ossos
Sinto congelar os pulmões
O ar frio sufoca-me a respiração
Não há coração batendo
Não há sentimento
E meus olhos não voltam a abrir
Milene Szilagyi
Rios de Dores
Rios de Dores*
A luz lá atrás
As trevas aos meus pés
Tudo se calou
E eu pude ouvir
A voz da noite
Mansa e nua
E eu pude caminhar
Por entre os rios de dores
Sentir as espinhas rasgar-me
Tudo tão só e tão devastador
Não há rastros de misericórdia
Milene Szilagyi
2008-02-17
11 fevereiro, 2008
Toma-me
Toma-me*
Toma-me a mim como vinho na taça
Indagando-me o perfume
Degustando-me o suor
Roçando-me os lábios em fervor
As mãos em chamas tocar-me
Aquecendo-me em prazer
Ofuscando a razão
Fazendo-me enlouquecer
Despindo-me contra o vento
Da noite clárida pávida
Calando-me a boca e a alma
Ofegante hei de tremer
Nossos corpos ante a lua
Entrelaçam-se vorazes
Voluptuosos
Gemendo em meio a luxuria
Que se perde em insensatez
Revela-se a mim
Misterioso e fugaz
Indesvendável, indispensável
Neutro... como a noite,
A escuridão e a solidão
Que congela interiormente
Porém quanto mais me atrais
Tanto mais me invade
Aquecendo-me o peito
Arrancando-me suspiros
Que aparentemente ocultos
Se põe como um brado de dor
Que a alma prende
Perplexando-me, limitando-me a gritar
Render-me-ei ao inexorável e implacável desejo de te roubar
Pois a quem vou enganar?
Se meus lábios clamam os teus
E na sombra de teus braços
Anseio que prenda-me sem hesitar
Mas como vinho na taça
Que se prova lentamente
A mim deveras tomar.
Milene Szilagyi