07 setembro, 2010

Visões

Visões*

Eu me vi correndo na escuridão, com as mãos estendidas para um estranho de costas. Quando o alcancei e o virei, ele não tinha face e desabava no chão, então uma fenda se abriu abaixo de meus pés, e a terra começou a me engolir. Me vi caindo no nada e afundando num mar gelado e negro. Não havia luz, mas eu podia ver minhas mãos estendidas para cima, queria subir... mas só afundava, na dor, na escuridão, no vazio, na solidão... Fechei meus olhos e senti minhas costas tocarem o solo, quando os abri estava no meio do nada, tudo o que eu via era uma grande extensão de folhas secas no chão e o céu negro acima de mim. Mais uma vez avistei um estranho ao longe. Levantei-me e comecei a correr atrás dele, mas cada passo que eu dava me dilacerava, era como se as folhas fossem laminas que perfuravam a sola de meus pés, cada passo era longo e dolorido. Eu o via mas não o podia alcançar. Olhei para trás e vi meu rastro de sangue e ao voltar a olhar para frente esbarrei de frente com o estranho, não conseguia ficar em pé, mas ele me segurou e logo me beijou a boca. Mais uma vez não pude ver seu rosto, e antes que eu percebesse, ele me deu as costas e desapareceu entre a névoa. O vento se fez presente e as folhas secas se foram, me vi em um cemitério de ossos. Uma dor rasgava o meu peito querendo subir pela minha garganta num brado de desespero. O céu se tornou vermelho e me engoliu para cima, me senti acolhida e confortável. Eu via rosas vermelhas por um campo verde e com um alto contraste, a visão era infinita e eu comecei a caminhar em direção a uma luz que vinha do chão e iluminava tudo em volta, percebi que quanto mais perto eu chegava, a luz ia se apagando e as flores ao redor murchando... Quando enfim eu consigo alcançá-la, já não havia mais luz e as flores haviam morrido. Vi um coração humano em forma física posto ao chão. O segurei com as duas mãos, estava frio e negro, ao olhá-lo vi a vida se passando diante de mim. Vi as pessoas queridas, vi minha família, e cada rosto que foi importante pra mim, vi meu trabalho e meu dinheiro, vi meus sorrisos, minhas lamentações, vi minha ansiedade, minhas lagrimas, vi o tempo desperdiçado em sonhos, vi meus valores, vi minhas vaidades, as crenças, as incertezas, vi o perigo, a desordem, a paz distante, vi abraços verdadeiros, sorrisos falsos. Não vi um par perfeito, nem duas pessoas se tornando uma só.

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